quarta-feira, dezembro 24, 2008

The greatest fear is to be not enough for the other

The greatest fear is to be not the other.
The greatest fear is the other.
The greatest fear is to be enough.
The greatest fear is to be for the other.
The greatest fear is enough for the other.
The greatest fear is to be.
The greatest fear.
the other.


And life goes on this way: We remove things ahead us and then when have a new view once again. Not to satisfy ourselves though, to make them proud, the others.

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Tudo outra vez

Não, nada dura. Nada dura para sempre. Dura o tempo exato para que depois possamos sentir saudade ou então o tempo exato para que depois passamos dizer "ufa, que bom que acabou",
Mas então, o que fazer quando a situação se complica e as duas situações despontam de uma só vez? Você, estatualizado, figurando em cima de um muro qualquer a ponto de não saber mais a quantos passos anda, olha pra trás, olha pra frente e sorri. Não de alegria é claro; pelo menos não de alegria plena. E sim por ter feito uso do seu poder de escolha, que lhe permite viver em troca do apenas existir.

domingo, dezembro 21, 2008

Laiá

Como é super deprimente
criarmos dentro da gente
algo que a gente pensa que sente
mesmo sabendo que se mente.

Fica aqui na nossa mente,
e a gente transporta pro coração.
Se fingindo de demente
em troca de alguma atenção.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

A espera

E quando me faltar o ar nesse último instante de silêncio quero ouvir o teu afago, beijar o teu cheiro, mirar tua voz e abraçar teu riso. E assim, nós dois em silêncio arrojado, faremos um grande barulho outra vez. Sussurando palavras nunca ditas, como em um desses nossos momentos de frenesi, em que tudo o que podemos externalizar é a pura transpiração de mentiras.
Não há muita verdade entre a gente. Há dois seres que mutuamente se satisfazem daquilo que podem exprimir um do outro. Uma simbiose vital que nos interconecta, até que a verdade venha à tona e nos roube a mentira e a vida de uma vez.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Gole a seco.

- Sabe aquela sensação de borboletas no estâmago?

- Sei!

- Seguido daquele formigamento nas extremidades do corpo?

- Sei!

- Depois aparece o suor, que começa como orvalho e logo depois vira cachoeira?

- Sei!

- Aí vem a eletricidade, os membros ficam mórbidos...?

-Sei, sei!

- A agitação aqui dentro começa, você não consegue se controlar, e acaba por fazer aquilo que supostamente não queria?

- Sei, sim! O que tem?


- Me mostra como sentir assim?

- COMO É?

-Eu sei que é te pedir muito, mas é que tem um vazio enorme, aqui dentro de mim.

- ...

quinta-feira, novembro 20, 2008

zero

Muitas vezes eu só via
o que pensava que sentia,
mas chegava o fim do dia
e, eu já nem mais sabia.

Depois eu pensei que era,
troquei sonho por quimera.
Pude ver o que senti
e de mim então fuji.

E hoje nem mais eu sonho.
E hoje eu nem mais me sinto.
Não me apego ao verdadeiro.
Hoje eu não mais me minto

segunda-feira, novembro 03, 2008

Já paguei

De uma hora para outra,
tal qual um sorriso que desponta,
as coisas mudam de forma e lugar,
e a dita cuja pessoa te desaponta.

O que fazer? O que fazer?
Paga pra ver.
Esquece as impossíveis promessas, cai em outra.
E paga pra ver.
Porque a vida é mais bonita quando vista dos dois lados.

quinta-feira, outubro 23, 2008

O jogo

Era terça-feira, tarde, e o sol ardia. Eu estava a caminho de casa, depois de mais uma enfadonha manhã de trabalho repetitivo, e trazia comigo a sinfonia que meu estômago produzia, protestando a vontade de comer. Também, o suor escorria, como lágrimas que ininterruptamente jorram, revelando a verdadeira intensidade da dor. Mas tudo o que eu sentia era cansaço e fome.
Não havia muita gente na rua naquele momento, naquele lugar. Quando pude então perceber dois garotinhos de mãos dadas, que do outro lado da rua bricavam. E eu me perguntava de quê. Não estavam caminhando. Nem sequer estavam em pé. Estavam sentados, mas não na calçada. No meio-fio, sorrindo, gargalhando e vez ou outra fazendo menção de que iriam se levantar e se jogariam na frente dos carros que rapidamente fluiam no caótico transito do pós meio-dia. E enquanto eu brincava e ria, percebi que um rapaz do outro lado da rua nos observava. Não paramos de brincar, mas ficamos com medo, porque todos os dias brincamos no mesmo lugar, por onde ele provavelmente diariamente passa, mas nunca tinha nos observado até então. Ele começou a falar alto, a gritar e a fazer gestos ridículos que nos confundia se estava brincando ou pondo em dúvida a sua lucidez. Mas, pouco importava, era a minha vez de jogar, no nosso jogo.
A quantidade de carros que passava era absurda e não me pertimia atravessar a rua e falar ao garotos que procurassem um outro lugar menos arriscado para se brincar. Semáforo ou faixa de pedestre nesse trecho não existiam, e decidi, por final, que driblaria os carros para chegar até o outro lado, na tentativa de salvar aquelas duas crianças do provável perigo. Até que o pior se antecedeu.
Eu olhava pros carros e ao mesmo tempo para o nada, e tudo aconteceu em bem poucos segundos. Não sei o que levou ele a fazer aquilo. Não se sei foi sua brincandeira, ou o descuido. Só sei que quando olhei para a rua, em meios aos carros que passavam, freavam e paravam, pude ver o corpo do rapaz, que gritava e gesticulava, deitado, inerte e ensaguentado no chão.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Desvanecer

O tempo passa, castiga e nos mostra o que é a realidade. Já não somos os mesmos que fomos há vinte bem vividos anos atrás. Agora, quando nossos sentidos nos falham, podemos ver como a vida realmente nos põe à prova de fogo.
Toda a leveza dos sonhos que por milhares de vezes idealizamos, alguns que até mesmo concretizamos, nos parece extremamente irreal dado o real peso do nosso corpo.
Pele, muita pele, e os já gastos ossos, são tudo o que nós temos agora.
Tudo isso e a solidão.
Porque a companhia dos amigos já não existe em meio a tanto esquecimento; a do sexo já não pode nos iludir com as suas promessas fugazes; E a do amor, foi algo que pouco aconteceu e mesmo assim se perdeu ao longo deste nosso caminho arduamente finito, que dura até o ultimo bombear de sangue que jorra dos nossos corações.

quarta-feira, outubro 15, 2008

e num é?!

As coisas boas da vida,
a gente não aprende cedo:
Nem todo amor é platônico.
Nem todo limão é azedo.

terça-feira, outubro 07, 2008

Deixa?

Se me deixar eu fico,
Se me deixar eu faço,
Se me deixar eu bebo,
Se me deixar eu traço.

E eu não quero de ti pouco.
E eu não quero de ti só um tempinho.
Te quero em imensidão, te quero inteira.
Porque agora eu sou o seu namoradinho.

terça-feira, setembro 30, 2008

insaide.

Há muito a ser dito dentro de mim.
Há muito a ser contado dentro de mim.
Há muito a ti ser dado dentro de mim.
Há muito que eu nem sei...
sabendo que te tenho dentro de mim.

on the radio

É assim que funciona:
Você procura dentro de você
Você pega as coisas que gosta
E tenta amar essas coisas que pegou
E então você pega todo esse amor que você fez
E crava em alguém
O coração de outro alguém
Bombeando o sangue de outro alguém.
E andando de braços dados
Você espera que isso não seja machucado,
Mas mesmo se isso acontecer
Você simplesmente vai fazer tudo de novo.

Regina Spektor

segunda-feira, setembro 29, 2008

its not an ending.

I was.
I was too.
I was too afraid.
I was too afraid to love.
Someone who's far away from me.

I know.
Distance fell us apart.
But you might be sure,
you still have your place in my heart.

domingo, setembro 28, 2008

Foi assim:
meio que inesperadamente, como um roubar de uma bolsa, de uma mulher que anda por uma rua super movimentada. Mas sem a tragicidade, é claro. Não pediu pra entrar, só olhou nos meus olhos... E o que teria sido de nós se eu não tivesse te perguntado o nome?
Pois é... exatamente assim como você gosta de dizer.
E enquanto eu solto fagulhas de felicidade nesse momento, por fazer real aquilo que com outras pessoas não pude - pela distância, pela incompatibilidade, ou pela disparadidade de momentos de vida - eu sorrio e quase choro ao ouvir uma das primeiras canções que trocamos...
E já nem quero estar mais aqui, se não for contigo.

E se alguém te perguntar, o que você pensa dessa história de nós, se você acha que tudo vai dar certo. Pode responder que você não se importa, que o vale é que a gente tá perto.
=D

If I fell.

If I fell in love with you
Would you promise to be true
And help me understand
'Cause I've been in love before
And I found that love was more
Than just holding hands

If I give my heart to you
I must be sure
From the very start
That you would love me more than her


If I trust in you oh please
Don't run and hide
If I love you too oh please
Don't hurt my pride like her

'Cause I couldn't stand the pain
And I would be sad if our new love was in vain
So I hope you see that I
Would love to love you
And that she will cry
When she learns we are two

If I fell in love with you

quinta-feira, setembro 25, 2008

!
!
?
?
.
.
...

sábado, setembro 13, 2008

Pulse

Mal chegou e
Bateu uma.
Bateu duas.
Bateu três.

E eu que antes pensei,
que era batida de lata.
Logo cedo percebi o engano,
e disse: "não pare, bata!".

Bateu quatro.
Bateu cinco.
Bateu seis.

E eu então já não continha,
qualquer gesto, ou emoção,
Nos falava até besteiras,
com a batida do meu coração.

quinta-feira, setembro 11, 2008

Oi, adeus!

E eu dei o meu melhor sorriso, enquanto ela me dizia, que mais que tudo me queria, e que de hoje em diante, à dois a gente ficaria. Mas o 'hoje em diante' percorreu um caminho curto demais. Depois de alguns bons momentos veio o adeus, e a gente não se falou, nem se viu nunca mais.

sexta-feira, setembro 05, 2008

Amorfa forma

Eu era um contador de sonhos. Um belo criador de histórias, que destrinchava todas as minhas verdades e mentiras em palavras cuidadosamente selecionadas. Sabia e fingia bem saber o que queria e o que não queria. Tudo o que amava e detestava. Sabia pedir antes mesmo de escolher, e sabia cantar, antes que inventassem a letra e a melodia de uma música.

Muito cedo aprendi e respeitei a minha previsibilidade, dia após dia, vivenciava e apreciava o enjoativo sabor do conhecimento do futuro. Futuro que sempre se confundia com o meu pretérito, quando me esquecia de já ter previsto, ou pensava prever o que já tinha vivido.

Por muito tempo fui e me deixei ser assim, até que a história mais difícil de ser contada me apareceu. Eu podia vê-la como seria, sentir como seria, mas não podia contá-la e nem tampouco vivê-la. Sim. Porque para se contar bem uma história, deve-se vivê-la na minimalidade dos fatos, no rubor da tinta e nas apertadas entrelinhas. E isso foi tudo o que não me aconteceu. Não por não saber criar o enredo, colocar rédeas no ritmo, ou achatar linhas distintas. É que dessa vez, a personagem principal fugia ao meu léxico.

Era uma mulher cuja idade e imagem eu desconhecia. Mas que era bela e mais sábia que eu, eu sabia. Pelas artimanhas da vida eu ocasionalmente a conhecia, em ambiente típico, tão logo me encantava e depois apaixonado me via – ou pensava estar. Ela parecia corresponder, me olhava nos olhos com a mesma precisão, sem desviar. O seu cheiro era sabor, tão qual um perfume de rosa sem cor. E o seu toque, que tão poucas vezes provei... eu não sei descrever.

Foi assim que toda a confusão começou. Eu não tinha dinheiro ou qualquer posição, apenas as velhas e gastas palavras que sempre usava e que no acaso sempre retomava para sair-me de qualquer situação. Mas não com ela, que adjetivos penosamente vestiam e que verbos nunca moviam. Eu me desesperei.

Comprei dicionários, aprendi novas línguas, para ter essa mulher só e inteira pra mim, através da única coisa que sabia dominar, as palavras. Quem me dera ela fosse um verbo desconhecido, mas conjugável. Eu mais cedo ou mais tarde a decifraria.

Queria continuar e terminar de criar a história, e quem sabe até, escrever um final feliz. Mas não podia, não conseguia. Faltavam-me substantivos, verbos, advérbios, adjetivos e até os míseros numerais que nem a quantificar podiam. Eu já não tinha nada, e as palavras que agora não me serviam, me qualificavam como um completo incapaz.

Demorou um certo tempo, até que ela pudesse perceber a minha incompetência. Cansou de esperar, de ter que em vagas palavras filosofar. Cansou do meu contar prolixo e sem nexo algum. Me deu mais de uma chance. Tentou, e tentou até cansar, até que em seguida me deixou.

Parei de escrever desde então, e hoje vago à procura de outra arte que jamais possa me desamparar.

Quanto a ela, ouvi que encontrou calor nas mãos de um escultor, que modela sua vida com forma e solidez. Ele não é de falar muito, mas a faz satisfeita, pois sempre se encontra onde é preciso estar. Ela sente a paixão e a vivacidade da vida. Ele a faz ser feliz, o que eu... só poderia contar.

terça-feira, junho 03, 2008

Toquemos o órgão.

"Era lindo, mas eu tinha medo. Tinha medo de tudo quase: circo, palhaços, precipicios, ciganos. Aquela gente encantada que chegava e seguia. Era disso que eu tinha medo: do que nao era para sempre..."


Todo coração que se perde em sonhos, tão cedo ou facilmente, entrega-se a qualquer promessa de amor.

quarta-feira, abril 16, 2008

Ponto final. E eu já estou pronto para começar outra vez.

sexta-feira, abril 11, 2008

Nós

Na confusão desses dias,
não sei o que mais me confunde,
se é a confusa confusão em si mesma,
ou cada idéia que não se funde.

domingo, março 30, 2008

Oportuno oportunismo

Creio que ele aproveitou,
para invadir-se, algumas perguntas.
para desistir-se, alguns sonhos.
para subexistir-se, falsas crenças e amores.
para aprender a se amar, alguns dissabores.

Desconexos

Ela olhou para mim.
Eu olhei para ela.
E juntos ficamos de longe a nos contemplar.

Eu olhei pra ela.
Ela olhou para mim.
De longe mesmo nos separamos,
e ficamos juntos a chorar a tristeza sem fim.
Tudo o que eu quero é ver um sorriso verdadeiro estampado no rosto daquele que se diz feliz, bem sucedido. A felicidade é um estado de espírito, e como tal, efêmero. E como sem felicidade não há sucesso, este fica sendo uma grande mentira.

sexta-feira, março 21, 2008

Problema de grandeza



1 - Os seus textos são enormes, dão sono e preguiça de ler.





2- Será que se eu diminuir a fonte fica um pouco melhor para você?










segunda-feira, março 17, 2008

Fator surpresa

Enquanto caminhava por uma das aconchegantes praças de Belo Horizonte, certo dias desses, deparei-me com um indivíduo esquisitíssimo, um idiota. O nome da praça era "Liberdade". Praça da Liberdade. E acho que envolvidos ou determinados pelo clima do ser - livre emanado pelo público espaço em que estávamos, começamos a conversar.

É bem verdade que se fosse por mim jamais teríamos trocado qualquer palavra. Mas meu interlocutor era comunicativo demais, e quando eu nem bem sentei em um banco e perdi-me a ler um livro, ele logo apareceu e puxou assunto.

Começou comentando do tempo, do calor sufocante e outros assuntos meteorológicos mais, pois sim: o tempo é um dos melhores iniciadores de conversa que existe. Passados os frívolos comentários e as previsões para os dias e meses seguintes, ele partiu para o livro que eu estava lendo.

Perguntou sobre o que era, de quem era e para quê era. E eu, que timidamente tinha permanecido bastante em silêncio até então, desatei-me a contar a história do livro...

Ele me ouvia atentamente. Sugava todas as vírgulas, pontos finais e exclamações que eu dizia. Não me interrompeu um momento sequer, até eu terminar a longa narração. E quando enfim terminei, ele sorriu. Sorriu. De rasgar a boca e chorar.
Fiquei apavorado. Apavoradíssimo. Porque a história daquele livro era bastante parecida com a da minha vida. E se ele ria da história, ria de mim. Indaguei o motivo do riso e ele, após recompor-se respondeu:

"Você acha que já sofreu por amor, por não ser amado, mas possui alguém que o ama e, no entanto não é, ou finge não ser, capaz de amar. Você reclama dos poucos bem materiais que possui, mas tem tudo que pode ter. Reclama dos países que nunca visitou, mas os conhece muito bem de longe. Sente falta dos amigos que se vão, mas se recusa a ir com eles. Teme as palavras que podem ser ditas e diz ser amante do silêncio. Ignora o tempo, e ridiculariza a discussão de tal assunto, mas é um dos primeiros a olhar para o céu antes de sair de casa... Engraçado, não? E digo mais, sei de tudo isso porque vivi algo parecido, e felizmente compreendi. Amigo, permita-se! O idiota que você há minutos atrás encontrou em mim, também existe em você. Não porque tenhamos pouca inteligência, é claro, e sim porque não nos permitimos ver o dois onde há apenas um."

terça-feira, março 04, 2008

Verde-Clorofila

Completamente branca. Foi assim que ela primeiro me apareceu. No entanto, com o passar do tempo, inevitavelmente de azul se preencheu. Não era um azul uniforme, que na posterioridade pudesse esconder a sua origem branca. Eram, na verdade, traços finamente azulados, que juntos pareciam fazer algum sentido.

Fiquei a observá-la, e após contemplar visualmente a sua transformação, tomei-a nas mãos e fui sentir seu cheiro: um pouco de tudo, foi o único odor que consegui identificar. Desconfiei, então, do seu passado. Por guardar tantos cheiros assim, ela já devia ter sido tocada por muitos e muitas. Eu não.

Ignorei a advertência do olfato e pedi a opinião do meu tato: não cheguei a me admirar, confesso, ao sentir sua textura gasta e um pouco velha, que suavemente pude perceber. Ela possuía traços que, além dos azulados, revelavam que ali havia um bom bocado de vida vivida.

Foi então que percebi como aquela situação estava se tornando deveras estranha, por ela finalmente me parecer familiar. A cada novo olhar que eu a remetia, ela se tornava incrivelmente mais azul.

Parei de escrever.

E finalmente pude entender como eu era fortemente semelhante àquela folha de papel, que vazia e limpa aconteceu, e que com o passar do tempo e o gastar de tinta, de azul se preencheu.

É claro que, no meu caso, além do azul, muitas outras cores também me pintaram. Muitas delas eu jamais pensei que existiriam, e outras que, por serem tão exóticas, já nem me lembro dos nomes. Lembro do vermelho clichê do beijo de amor de uma paixão qualquer, do cinza nebuloso que por avisar a eminente chuva, me fez permanecer em casa, do azul-céu que hoje é tinta para caneta, do verde das árvores que perderam em exuberância para se tornarem meras folhas de papel, e de muitas outras.

Eu tinha, era me perdido nas cores, até em mim, não sobrar cor alguma.

Invejei, momentaneamente, aquela folha por ser agora apenas azul e branco, não sei por quê. Mas dei, em seguida, um sorriso monocromático, meio em preto e branco, ao lembrar que no passado eu fui tão colorido quanto ela foi. E que assim como eu, ela também possui apenas duas cores; ainda que em nossa essência guardemos um pouco do verde-clorofila, bem parecido com o da esperança em tornar-se multicor.

domingo, fevereiro 24, 2008

Amor próprio ou auto-amor. (Um é imprescindível, o outro deve ser necessário.)

Ela era a verdadeira personificação da pura perfeição. Contudo, era passível ao amor.

Qualquer elogio a ela aplicado era deveras inapropriado. Não porque eles não a bem vestisse, e sim porque a sua sublime e sutil superioridade fazia com que simples palavras se tornassem frivolidades.

Ela também nunca desejou o amor. De fato o repudiava e espoliava qualquer ato pertinente a esse tipo de afeição. “Para que amar e por que amar?” ela sempre se perguntava; e mergulhada no silêncio da resposta, sorria.

E sorriu diversas vezes até poder sentir nos suaves poros de sua pele as respostas que já não eram mais mudas. Percebeu que não era esplêndido amar e nem tão pouco muito. A troca nunca obedece à proporcionalidade e sempre o mais forte, quando mais intenso, torna-se inevitavelmente mais fraco.

Ela nunca lutou contra o amor que agora sentia. Jamais lutara contra qualquer coisa que a vida lhe propusera. Não eram desafios, mas exercícios cujo objetivo ela jamais cogitou questionar.

E então amou... Mas sabia que não era correspondida. E para não honrar o ser da mesma espécie, cujo poder de reciprocidade não o havia sido conferido, decidiu amar o amor, em sua plenitude apenas...

E percebeu que amar o amor era mais compensador do que qualquer outra coisa que já experienciara em toda a sua vida, pois não havia mares a atravessar, nem caminhos a percorrer. Bastava ficar ou simplesmente permanecer, e poderia deleitar-se com o sentimento que encerrara dentro de si mesma.

domingo, fevereiro 17, 2008

Suicídio?

Guitarra

"Punhal de prata já eras,
punhal de prata!
nem foste tu que fizeste
a minha mão insensata.
vi-te brilhar entre as pedras,
punhal de prata!
- no cabo flores abertas,
no gume, a medida exata,

exata, a medida certa,
punhal de prata,
para atravessar-me o peito
com uma letra e uma data.

A maior pena que eu tenho,
punhal de prata,
não é de me ver morrendo,
mas de saber quem me mata."


Cecília Meirelles

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Emaranhado de traumas e silêncio.

Mais do que caótica, a situação estava insuportavelmente insuportável: a mãe não falava com o pai, com o filho mais velho, nem com a própria mãe. O pai, por sua vez, além de não falar com a mãe dos filhos, não falava com o filho mais velho, nem com o mais novo. Este, coitado, não falava com o irmão e com a empregada; que não falava com a mãe da mãe, a avó, e nem com o filho mais velho. Para transmitir um recado então, era uma ladainha e a bendita mensagem tinha que percorrer um labirinto complicadíssimo.

Eles não tomavam café da manhã juntos. E não almoçavam, nem jantavam juntos também. Para assistir TV todos tinham o seu horário específico, e se caso se encontrassem diante da televisão, nenhum comentário, movimento, ou expressão facial acontecia.

O filho mais novo se machucou, foi atropelado por uma bicicleta - hospital! "Para quem devo ligar?" perguntou um enfermeiro. "Ligue para minha avó", respondeu com dificuldade, e deu o número.

Ao receber a notícia a avó contactou o pai do menino, que ligou para a empregada, e ela não perdeu tempo e ligou para a mãe. Correram todos para o hospital, e o que eufemicamente fora comunicado como um acidentezinho rotineiro transformou-se em algo muito mais grave, pois o garoto já convalecia de doença crônica e quando foi atropelado, bateu a cabeça no chão.

"Traumatismo craniano!" anunciou o médico.

Era hora de a família resolver os outros traumas também. Choraram juntos todos os quatros dias em que o garoto permaneceu nos hospital, e ficaram permanentemente abraçados quando receberam a noticia da morte.

Juraram perante o túmulo que jamais se separariam ou que brigariam outra vez. Choraram e se abraçaram mais algumas vezes, IN MEMORIAM. Mas esqueceram de avisar o irmão mais velho que viajava e com ninguém de casa falava.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Quarta-feira, ingrata?

Quarta-feira de cinzas, dia de recolher o que restou da fogueira do carnaval. Lavar o tênis sujo, a roupa suja, tomar um banho sacramental para dissipar todas as vibrações de desejo e pecado que fluíram tão bem durante essa época; Tornar-se são de novo.

Limpar os restos de confetes e serpentinas que sorrateiramente chegaram e permaneceram no quarto, e conferir se há qualquer vestígio de gliter colado na pele. É hora também de esquecer as marchinhas e os hits de carnaval e voltar ao mantra diário.

Não esquecer de tirar a máscara de colombina, que nesse entretempo compartilhou tanta alegria e produziu tantos risos e usar a, ou as, máscaras do dia a dia.

Tirar do rosto a maquilagem e deixar a pele finalmente respirar.

No fim de tudo é bom respirar também, deixar o corpo exalar o álcool e outras substâncias que foram alegremente ingeridas; Encher o peito de ar e com sorriso no rosto pensar: "Ano que vem tem mais”.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Quando o choro me cala as palavras, eu faço o bom uso de outras:


Aqui neste profundo apartamento

Aqui neste profundo apartamento
Em que, não por lugar, mas mente estou,
No claustro de ser eu, neste momento
Em que me encontro e sinto-me o que vou,

Aqui, agora, rememoro
Quanto de mim deixer de ser
E, inutilmente, [....] choro
O que sou e não pude ter.



Fernando Pessoa

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Tumdum!!!! Baragadum, baragadum, quiriguidum, quiriguidum.

Com ou sem amor, faça com segurança!

Bom Carnaval!





quarta-feira, janeiro 23, 2008

Estaticamente Estátua. Móvel e viva.

De repente parei. Estava absorto. Era noite e eu não conseguia enxergar quase mais ninguém na rua. Foi quando então, ouvi um barulho e a pulso ou por impulso me senti arremessado contra a mais próxima parede molhada e fria.

Perdi a noção de tudo.

Meu corpo tremia, mas eu não conseguia sentir nenhum dos meus membros - eu estava vivenciando tudo aquilo e nada podia fazer. Pensei em gritar, em transformar aquela rua em um grande mar de ecos e rezar para que alguém ouvisse qualquer uma das ondas que carregava minha voz. Mas foi aí que percebi o repentino bloqueio da minha respiração - e eu mal havia começado a insuflar os pulmões.

Não demorou muito para que meu estômago também protestasse aquele acontecimento e eu o senti embolar: era como se alguém estivesse virando uma página de um pesado livro dentro de mim, e junto com a página vinha uma quente corrente de ar, que trazia consigo um insuportável sabor de ácido e resto de comida.

Eu suava, pingava, meus olhos imóveis para fugir da cena tentavam encontrar um ponto fixo inexistente e eu estava totalmente incapaz.

Não sei quanto tempo tudo aquilo demorou, mas pelo grau de insuportabilidade eu poderia contar mais de mil voltas de um relógio.

Voltei a mim.

Senti o corpo pesado, a pele molhada e os olhos encharcados que deslizavam de um lado para outro...

Vomitei.

E depois de liberar uma grande quantidade de ácido e resto de comida, limpei a boca com as mãos. Mãos, que em seguida calaram-me o choro, a dor e o desespero.

Eu o vi ir embora.

Eu o vi ir embora.

E só então consegui me mover e me separar da única coisa que se manteve firme durante todo o tempo: a parede dura, molhada e fria atrás de mim.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

O ato da compadecida

Eu era aluno da sétima série do colegial e, por sinal, um mau aluno. Na verdade, se havia algo em minha vida ao qual eu não dava o menor valor era meus estudos. Todo o mais era diversão. O problema apareceu quando minha mãe me disse que se eu não fosse aprovado naquele ano eu iria para uma escola pública.

Pasmei! Pedi a ela que fizesse tudo menos aquilo, mas ela não cedeu. Decidi apelar e falei que não era minha culpa, que os professores eram os culpados e que eu tinha dificuldades de aprendizado. Ela me olhou séria como quem consegue dificultosamente ver o fundo do mar estando fora da água e me surpreendeu dizendo que iria ao colégio comigo no dia seguinte.

Eram oito horas quando minha mãe entrou na sala com o coordenador do colégio na sala dele. Eu tive que esperar do lado de fora. Mas como a hora passava e eu estava cansado de criar situações e suposições em minha mente, decidi espiar para ver o que estava acontecendo lá dentro.

Nem meia hora havia que tínhamos nos encontrado pela primeira vez e eu já estava de joelhos na frente dele. Vi quando meu filho entreabriu a porta e com mais vergonha e prazer ainda, continuei a dar àquele homem o maior e mais inigualável prazer que ele havia sentido até então. Mãe também é para essas coisas, e foi então que ele começou a tremer.

Que maravilha de profissão: trabalhar pouco e receber esses servicinhos extras. Que boca e que mulher! Ninguém jamais houvera feito nada assim comigo. Com tanta firmeza, suavidade e certeza. Não demorou muito, é verdade, mas após uma tremedeira que anormalmente me ocorreu, dei a maior gozada da minha vida.

Fechei a porta.

Voltei a mim e minutos depois minha mãe saiu da sala, me pegou pelo braço, me levou para casa e me disse que estava tudo bem.

Me masturbei como um louco naquela noite e no dia seguinte recebi a notícia de que havia sido aprovado no colégio.

Agora não sei se devo, ou não, agradecer à minha mãe.

terça-feira, janeiro 01, 2008

Feliz Ano Novo!

Feliz Ano Novo!
Embora os diferentes timbres de voz o meu ouvido já se acostumou com a sentença e então:
O que há de novo?
Olho ao meu redor e tudo ainda está igual.
Uso a roupa nova que agora é velha, comprada e usada na festa que começou no ano anterior.
Meus pensamentos, caducos, ainda persistem e nada transmutaram.
As pessoas, familia, amigos, os mesmos estranhos e desconhecidos.
Eu devo estar certo.
Feliz Ano Novo é uma frase arbitrária, de quem espera o que estar por vir baseado em esperanças depositadas no novo ciclo cósmico.


Chega de previsões a longo prazo.
Feliz Segundo Novo!
E vou tentar fazer aquilo que não fiz nesse segundo, registrado pelo meu relógio, e que acabou de passar.