domingo, março 30, 2008

Oportuno oportunismo

Creio que ele aproveitou,
para invadir-se, algumas perguntas.
para desistir-se, alguns sonhos.
para subexistir-se, falsas crenças e amores.
para aprender a se amar, alguns dissabores.

Desconexos

Ela olhou para mim.
Eu olhei para ela.
E juntos ficamos de longe a nos contemplar.

Eu olhei pra ela.
Ela olhou para mim.
De longe mesmo nos separamos,
e ficamos juntos a chorar a tristeza sem fim.
Tudo o que eu quero é ver um sorriso verdadeiro estampado no rosto daquele que se diz feliz, bem sucedido. A felicidade é um estado de espírito, e como tal, efêmero. E como sem felicidade não há sucesso, este fica sendo uma grande mentira.

sexta-feira, março 21, 2008

Problema de grandeza



1 - Os seus textos são enormes, dão sono e preguiça de ler.





2- Será que se eu diminuir a fonte fica um pouco melhor para você?










segunda-feira, março 17, 2008

Fator surpresa

Enquanto caminhava por uma das aconchegantes praças de Belo Horizonte, certo dias desses, deparei-me com um indivíduo esquisitíssimo, um idiota. O nome da praça era "Liberdade". Praça da Liberdade. E acho que envolvidos ou determinados pelo clima do ser - livre emanado pelo público espaço em que estávamos, começamos a conversar.

É bem verdade que se fosse por mim jamais teríamos trocado qualquer palavra. Mas meu interlocutor era comunicativo demais, e quando eu nem bem sentei em um banco e perdi-me a ler um livro, ele logo apareceu e puxou assunto.

Começou comentando do tempo, do calor sufocante e outros assuntos meteorológicos mais, pois sim: o tempo é um dos melhores iniciadores de conversa que existe. Passados os frívolos comentários e as previsões para os dias e meses seguintes, ele partiu para o livro que eu estava lendo.

Perguntou sobre o que era, de quem era e para quê era. E eu, que timidamente tinha permanecido bastante em silêncio até então, desatei-me a contar a história do livro...

Ele me ouvia atentamente. Sugava todas as vírgulas, pontos finais e exclamações que eu dizia. Não me interrompeu um momento sequer, até eu terminar a longa narração. E quando enfim terminei, ele sorriu. Sorriu. De rasgar a boca e chorar.
Fiquei apavorado. Apavoradíssimo. Porque a história daquele livro era bastante parecida com a da minha vida. E se ele ria da história, ria de mim. Indaguei o motivo do riso e ele, após recompor-se respondeu:

"Você acha que já sofreu por amor, por não ser amado, mas possui alguém que o ama e, no entanto não é, ou finge não ser, capaz de amar. Você reclama dos poucos bem materiais que possui, mas tem tudo que pode ter. Reclama dos países que nunca visitou, mas os conhece muito bem de longe. Sente falta dos amigos que se vão, mas se recusa a ir com eles. Teme as palavras que podem ser ditas e diz ser amante do silêncio. Ignora o tempo, e ridiculariza a discussão de tal assunto, mas é um dos primeiros a olhar para o céu antes de sair de casa... Engraçado, não? E digo mais, sei de tudo isso porque vivi algo parecido, e felizmente compreendi. Amigo, permita-se! O idiota que você há minutos atrás encontrou em mim, também existe em você. Não porque tenhamos pouca inteligência, é claro, e sim porque não nos permitimos ver o dois onde há apenas um."

terça-feira, março 04, 2008

Verde-Clorofila

Completamente branca. Foi assim que ela primeiro me apareceu. No entanto, com o passar do tempo, inevitavelmente de azul se preencheu. Não era um azul uniforme, que na posterioridade pudesse esconder a sua origem branca. Eram, na verdade, traços finamente azulados, que juntos pareciam fazer algum sentido.

Fiquei a observá-la, e após contemplar visualmente a sua transformação, tomei-a nas mãos e fui sentir seu cheiro: um pouco de tudo, foi o único odor que consegui identificar. Desconfiei, então, do seu passado. Por guardar tantos cheiros assim, ela já devia ter sido tocada por muitos e muitas. Eu não.

Ignorei a advertência do olfato e pedi a opinião do meu tato: não cheguei a me admirar, confesso, ao sentir sua textura gasta e um pouco velha, que suavemente pude perceber. Ela possuía traços que, além dos azulados, revelavam que ali havia um bom bocado de vida vivida.

Foi então que percebi como aquela situação estava se tornando deveras estranha, por ela finalmente me parecer familiar. A cada novo olhar que eu a remetia, ela se tornava incrivelmente mais azul.

Parei de escrever.

E finalmente pude entender como eu era fortemente semelhante àquela folha de papel, que vazia e limpa aconteceu, e que com o passar do tempo e o gastar de tinta, de azul se preencheu.

É claro que, no meu caso, além do azul, muitas outras cores também me pintaram. Muitas delas eu jamais pensei que existiriam, e outras que, por serem tão exóticas, já nem me lembro dos nomes. Lembro do vermelho clichê do beijo de amor de uma paixão qualquer, do cinza nebuloso que por avisar a eminente chuva, me fez permanecer em casa, do azul-céu que hoje é tinta para caneta, do verde das árvores que perderam em exuberância para se tornarem meras folhas de papel, e de muitas outras.

Eu tinha, era me perdido nas cores, até em mim, não sobrar cor alguma.

Invejei, momentaneamente, aquela folha por ser agora apenas azul e branco, não sei por quê. Mas dei, em seguida, um sorriso monocromático, meio em preto e branco, ao lembrar que no passado eu fui tão colorido quanto ela foi. E que assim como eu, ela também possui apenas duas cores; ainda que em nossa essência guardemos um pouco do verde-clorofila, bem parecido com o da esperança em tornar-se multicor.