quinta-feira, outubro 23, 2008

O jogo

Era terça-feira, tarde, e o sol ardia. Eu estava a caminho de casa, depois de mais uma enfadonha manhã de trabalho repetitivo, e trazia comigo a sinfonia que meu estômago produzia, protestando a vontade de comer. Também, o suor escorria, como lágrimas que ininterruptamente jorram, revelando a verdadeira intensidade da dor. Mas tudo o que eu sentia era cansaço e fome.
Não havia muita gente na rua naquele momento, naquele lugar. Quando pude então perceber dois garotinhos de mãos dadas, que do outro lado da rua bricavam. E eu me perguntava de quê. Não estavam caminhando. Nem sequer estavam em pé. Estavam sentados, mas não na calçada. No meio-fio, sorrindo, gargalhando e vez ou outra fazendo menção de que iriam se levantar e se jogariam na frente dos carros que rapidamente fluiam no caótico transito do pós meio-dia. E enquanto eu brincava e ria, percebi que um rapaz do outro lado da rua nos observava. Não paramos de brincar, mas ficamos com medo, porque todos os dias brincamos no mesmo lugar, por onde ele provavelmente diariamente passa, mas nunca tinha nos observado até então. Ele começou a falar alto, a gritar e a fazer gestos ridículos que nos confundia se estava brincando ou pondo em dúvida a sua lucidez. Mas, pouco importava, era a minha vez de jogar, no nosso jogo.
A quantidade de carros que passava era absurda e não me pertimia atravessar a rua e falar ao garotos que procurassem um outro lugar menos arriscado para se brincar. Semáforo ou faixa de pedestre nesse trecho não existiam, e decidi, por final, que driblaria os carros para chegar até o outro lado, na tentativa de salvar aquelas duas crianças do provável perigo. Até que o pior se antecedeu.
Eu olhava pros carros e ao mesmo tempo para o nada, e tudo aconteceu em bem poucos segundos. Não sei o que levou ele a fazer aquilo. Não se sei foi sua brincandeira, ou o descuido. Só sei que quando olhei para a rua, em meios aos carros que passavam, freavam e paravam, pude ver o corpo do rapaz, que gritava e gesticulava, deitado, inerte e ensaguentado no chão.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Desvanecer

O tempo passa, castiga e nos mostra o que é a realidade. Já não somos os mesmos que fomos há vinte bem vividos anos atrás. Agora, quando nossos sentidos nos falham, podemos ver como a vida realmente nos põe à prova de fogo.
Toda a leveza dos sonhos que por milhares de vezes idealizamos, alguns que até mesmo concretizamos, nos parece extremamente irreal dado o real peso do nosso corpo.
Pele, muita pele, e os já gastos ossos, são tudo o que nós temos agora.
Tudo isso e a solidão.
Porque a companhia dos amigos já não existe em meio a tanto esquecimento; a do sexo já não pode nos iludir com as suas promessas fugazes; E a do amor, foi algo que pouco aconteceu e mesmo assim se perdeu ao longo deste nosso caminho arduamente finito, que dura até o ultimo bombear de sangue que jorra dos nossos corações.

quarta-feira, outubro 15, 2008

e num é?!

As coisas boas da vida,
a gente não aprende cedo:
Nem todo amor é platônico.
Nem todo limão é azedo.

terça-feira, outubro 07, 2008

Deixa?

Se me deixar eu fico,
Se me deixar eu faço,
Se me deixar eu bebo,
Se me deixar eu traço.

E eu não quero de ti pouco.
E eu não quero de ti só um tempinho.
Te quero em imensidão, te quero inteira.
Porque agora eu sou o seu namoradinho.