Enquanto caminhava por uma das aconchegantes praças de Belo Horizonte, certo dias desses, deparei-me com um indivíduo esquisitíssimo, um idiota. O nome da praça era "Liberdade". Praça da Liberdade. E acho que envolvidos ou determinados pelo clima do ser - livre emanado pelo público espaço em que estávamos, começamos a conversar.
É bem verdade que se fosse por mim jamais teríamos trocado qualquer palavra. Mas meu interlocutor era comunicativo demais, e quando eu nem bem sentei em um banco e perdi-me a ler um livro, ele logo apareceu e puxou assunto.
Começou comentando do tempo, do calor sufocante e outros assuntos meteorológicos mais, pois sim: o tempo é um dos melhores iniciadores de conversa que existe. Passados os frívolos comentários e as previsões para os dias e meses seguintes, ele partiu para o livro que eu estava lendo.
Perguntou sobre o que era, de quem era e para quê era. E eu, que timidamente tinha permanecido bastante em silêncio até então, desatei-me a contar a história do livro...
Ele me ouvia atentamente. Sugava todas as vírgulas, pontos finais e exclamações que eu dizia. Não me interrompeu um momento sequer, até eu terminar a longa narração. E quando enfim terminei, ele sorriu. Sorriu. De rasgar a boca e chorar.
Fiquei apavorado. Apavoradíssimo. Porque a história daquele livro era bastante parecida com a da minha vida. E se ele ria da história, ria de mim. Indaguei o motivo do riso e ele, após recompor-se respondeu:
"Você acha que já sofreu por amor, por não ser amado, mas possui alguém que o ama e, no entanto não é, ou finge não ser, capaz de amar. Você reclama dos poucos bem materiais que possui, mas tem tudo que pode ter. Reclama dos países que nunca visitou, mas os conhece muito bem de longe. Sente falta dos amigos que se vão, mas se recusa a ir com eles. Teme as palavras que podem ser ditas e diz ser amante do silêncio. Ignora o tempo, e ridiculariza a discussão de tal assunto, mas é um dos primeiros a olhar para o céu antes de sair de casa... Engraçado, não? E digo mais, sei de tudo isso porque vivi algo parecido, e felizmente compreendi. Amigo, permita-se! O idiota que você há minutos atrás encontrou em mim, também existe
2 comentários:
Surpresas agradáveis... Elas ultrapassam a delimitação de sua definição, e esta que você fez mostrar foi simples mas, a forma com a qual a fez aparecer, eu diria, espetacular.
Adorei a narrativa, parabéns!
um lixo! (porque se eu disser que gostei, você vai pedir pra eu não vai achar legal. eu já sei.)
todo mundo tem um contexto parecido. alguns dão um bom desfecho, outros perguntam qual será a previsão do tempo e ficam nisso mesmo.
abraço, jhôôrgdel!
Postar um comentário